sábado, 27 de fevereiro de 2010

Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): uma fotografia das escolas brasileiras sem photoshop



 Sandra Meyre Lopes Nunes e Silva

Fez dez anos da primeira aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio-Enem. Depois da implantação do Sistema de Seleção Unificada (SISU) e do já existente  ProUni- Programa Universidade para Todos nos quais são utilizados o Enem para ingresso em universidades públicas e também privadas, com certeza, esse processo avaliativo tornou-se mais relevante. Porém, a maior contribuição desse exame se dá por meio dos resultados, pois ele não só mostra as competências e as habilidades dos alunos nos diversos assuntos como também o desempenho das escolas no processo ensino-aprendizagem.
O principal ponto desse texto é sobre esse assunto. Toda escola é única e deve estar inserida em um projeto político pedagógico, construído pelos participantes dessa instituição. Sabe-se, contudo, que cada escola, independente de região geográfica ou localidade, o projeto deve orientar-se pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, mas, se a escola assim não o faz, ela estará fadada a não obter progresso no processo ensino-aprendizagem.
De nada vai adiantar uma escola escolher alguns trechos dos Parâmetros Curriculares Nacionais e, em seguida, “discutir” com o grupo. Essa é uma praxe que não funciona, assim, percebi ao longo dos anos. Nesse momento, a atuação da equipe pedagógica deve ser fundamental, pois ela será a responsável para explicar os Parâmetros Curriculares e o projeto político, levando o professor a compreender bem o funcionamento deles e, então, atuar com segurança. A explicação não será passiva, porém os pedagogos estudaram para isso também.
A escola deve fazer as seguintes perguntas: Quem eu sou? Quais objetivos pretendidos? Como e o que fazer para atingi-los? Essas perguntas, quando respondidas com consciência, permitirão os primeiros passos para o desenvolvimento eficiente do processo ensino-aprendizagem. Sabe-se que, muitas vezes, esse projeto é elaborado apenas por uma pessoa da instituição ou, algumas vezes, terceirizado. Quando pronto, ele é guardado, enfraquecendo o processo ensino-aprendizagem. Outro ponto sem eficiência são os recortes de teorias educacionais feitos pala equipe pedagógica para explicar como devem ser realizadas as práticas educacionais. Infelizmente, a superficialidade dos encontros pedagógicos é uma das causas de não se realizar o conhecimento na instituição.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é estruturado a partir de cinco competências e 21 habilidades. Entende-se por competência todo conhecimento que o indivíduo possui não memorizado, mas, capaz de explicá-lo. É quando um(a) aluno(a), por exemplo, não só dá a resposta de uma situação-problema, mas sabe explicar como ele chegou à resposta, quais caminhos o(a) levaram ao resultado. Já habilidade é todo conhecimento que o alunado adquire sobre os diversos assuntos das disciplinas. Competências e habilidades são adquiridas por meio do processo cognitivo, portanto, quando se possui habilidade em um assunto, significa dizer que se aprendeu comparando e associando. Como o processo é cognitivo, o(a) aluno(a) aprendeu pensando, parando para associar a outros assuntos. Se o(a) aluno(a) possui as habilidades, ele(a) deverá possuir competência para explicar um fenômeno, uma situação-problema ou o funcionamento da Língua Portuguesa, por exemplo.
Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica é a primeira competência do Enem. Estranho apresenta-se o fato do(a)  professor(a) de Língua Portuguesa insistir em não mais ensinar a variante padrão já que, segundo ele(a), não mais se exige nos processos avaliativos, porém, contempla-se a interpretação de textos. O que significa, então, tanta polêmica? Na verdade, a análise de um texto e do estudo de variantes linguísticas corresponde a algumas habilidades do Enem, porém, faz-se necessário dizer que interpretar um texto depende de conhecimentos linguísticos, não linguísticos e da pragmática textual, logo se necessita de várias habilidades para uma interpretação textual como sinônimo de leitor crítico. Como frisou Helena Brandrão, um leitor crítico apresenta o seguinte perfil:
           



  • não é apenas um decifrador de sinais, um decodificador da palavra. A palavra, para ele, é signo e não sinal (no sentido bakhtiniano). Busca uma compreensão do texto, dialogando com ele, recriando sentidos implícitos nele, fazendo inferências, estabelecendo relações e mobilizando seus conhecimentos para dar coerência às possibilidades significativas do texto;



  • é cooperativo, na medida em que deve ser capaz de construir o universo textual a partir das indicações que lhe são fornecidas;  



  • é produtivo, na medida em que, refazendo o percurso do autor, trabalha o texto e se institui em um co-enunciador;



  • é, enfim, sujeito do processo de ler e não objeto, receptáculo de informações. (2001, p.21)

É necessário entender também que as variantes linguísticas dependem de estilo de linguagem, dos interlocutores, da situação e de todos os elementos responsáveis pelo processo de comunicação. Compreender que a norma culta é mais uma variante entre as outras e a utilização dela depende da situação. No caso do Enem e de outros concursos, exige-se a competência da norma culta. Os concursos não pedem memorização de regras gramaticais, mas o funcionamento delas. O alunado deve dominá-las para empregá-las com segurança e liberdade.
Outro ponto importante diz respeito à contratação de professores(as) nas escolas particulares. A época de indicação como sinônimo de qualidade acabou. Talvez a melhor maneira seja a “tradicional”. Na primeira etapa, seria uma prova avaliativa sobre o conteúdo da disciplina; na segunda, a realização de uma aula acompanhada de um planejamento e; na terceira etapa, uma entrevista. É bom frisar que a entrevista mostra-se fundamental, pois é nela que, na maioria das vezes, reconhece-se o profissional uma vez que ele apresenta a subjetividade dele. Na entrevista, é necessário observar motivação, interesse em pesquisa, desejo de continuidade nos estudos e outros pontos que a escola acredita ser importante. Não se adéquam, nessa nova ordem, frases: “um jovem é mais motivado” ou “com essa idade ele(a) está ultrapassado(a)” e ainda “como possui mestrado, é o(a) melhor”. É bom ressaltar que alguém com mestrado possui, com certeza, muitas competências, mas não é uma verdade absoluta que seja a melhor opção para o ensino médio. Por isso, necessita-se realizar todas as etapas. O currículo deve ser usado se houver empate. Muitas escolas estão “perdidas” numa época sem linearidade, porém existem também excelentes escolas que, de alguma forma, tive contato e, se escrevi esse texto, não foi somente devido às leituras, mas à convivência nelas. A contratação de um(a) professor(a) pela escola deve ser bastante segura já que essa segurança levará a uma cumplicidade entre professor(a) e a equipe pedagógica. Assim, o processo ensino-aprendizagem será mais favorável.
O último ponto diz respeito ao desempenho, por meio de uma nota, de cada escola brasileira no processo avaliativo do Exame Nacional do Ensino Médio- Enem. Essa nota, com certeza, passou a ser uma excelente mídia. As escolas, que conquistarem até a vigésima posição, serão referência. As outras devem buscar melhorias no ensino-aprendizagem. Investir muito em propaganda talvez não seja a melhor opção, mas deve levar em consideração a formação dos educadores em suas respectivas disciplinas e de forma significativa. Não adianta muito tentar maquiar o resultado, dizendo que foi a melhor na cidade (claro que esse resultado é louvável, mas deve ser motivador para avançar). Nesse novo cenário educacional, tornou-se inegável a importância do Enem, pois aumentou o interesse do alunado por esse processo, logo estão observando os resultados tanto o alunado quanto pais e outros.
Termino o texto com o título - Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): uma fotografia das escolas brasileiras sem photoshop. Ela realmente é real.


Habilidades e competências do Enem:

Melhores escolas pelo resultado do Enem:


Bibliografia

BRANDÃO, Helena e MICHELETTI, Guaraciaba (coordenadores). Aprender e ensinar com textos – Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 2001, 3 ed, v.2.
Relatório Pedagógico – Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Linguagem, Códigos e suas Tecnologias



2 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que a formação de um professor diz respeito ás áreas específicas que ele atua e não á práticas pedagógicas. Ótimo.S

Jaguar disse...

Não podemos esquecer que é fundamental a participação discente com os estudos e a leitura do que ocorre no mundo, ou seja, assistir os jornais da TV, ler revistas e jornais, vez que, não deve ficar apenas focado nos estudos em sala de aula