quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Escola Nova e Tradicional: um desafio para a educação no século X XI




Escola Nova e Tradicional: um desafio para a educação no século X XI


Sandra Meyre Lopes Nunes e Silva



Anular concepções arraigadas aos educadores sobre o que realmente significa ensino tradicional torna-se, praticamente, impossível, porque elas possuem raízes históricas e culturais. 
Segundo Castanho, em "Da discussão e o debate nasce a rebeldia" (pág. 93). Costuma-se relacionar ensino tradicional à aula expositiva e todas as técnicas relacionadas às atividades dos alunos à Escola Nova. Sabe-se que essas maneiras, de ver e tratar a educação, são simplistas e, com certeza, contribuíram e, ainda, contribuem para aumentar os nós na educação brasileira. 
Faz-se, então, necessário uma rápida apresentação histórica para que se possa entender a possível raiz do problema. Em primeiro lugar, a cultura brasileira nasceu sob o signo da forma como o brasileiro foi colonizado: de um lado havia aquele que determinava e; de outro, aquele que obedecia. Somando à cultura colonialista, existiu a escravista e a repressão nos anos da ditadura que juntas roubaram a subjetividade do Outro. A partir dai, nasceram duas correntes: a de direita e a de esquerda. Quem reprime está relacionado à direita e, conseqüentemente, a tudo que remete ao tradicional; já os que são vítimas dessa ordem são relacionados à esquerda. Dessa forma, o brasileiro entende essa palavra a partir desse contexto cultural e historicista.


Outro fator importante que deve ser destacado é a democratização do ensino fundamental. Um dos pontos relevantes foi a simplificação dos programas de ensino, para que a escola pudesse chegar a todos, e o conhecimento do professor foi desqualificado, pois era necessário contratar professores em massa, de forma rápida e barata. Segundo Christiano de Souza, em A escola brasileira, a lei e o laço social (pág. 52), nesses anos, a geração hippie fez com que se voltasse a pensar nos seres humanos como pertencentes à natureza, a reconhecer o homem como mais uma espécie dentre todas as outras espécies do planeta. Quando o sonho acabou, Deus saiu de cena e a história não prometia mais um final feliz, o interesse da cultura alternativa pela natureza espremia a esperança de encontrar na terra as raízes de sua dignidade e a forma de oposição à lógica das instituições autoritárias. 


Percebe-se, então, que os contextos tanto histórico quanto político vão direcionando o fazer educacional no Brasil e essas concepções não se universalizam, mas dividem opiniões. Sendo assim, acontece o retrocesso, não o avançar. 
Observa-se que se traduzia tradicional em educação ao conceito dicionarizado, ainda, relacionou-se a técnicas, sendo assim, aboliu-se essa corrente ou a tudo que a lembraria. Procuraram-se, então, novas correntes, mas, talvez, por falta de preparo intelectual, o novo foi mal interpretado, contribuindo, cada vez mais, para o empobrecimento intelectual dos alunos. Um exemplo é o construtivo proposto por Vygotski. Percebe-se, em pleno século XXI, que há profissionais discursando a teoria dele às avessas.
Na verdade, quanto se fala em tradicional, estamos relacionando às técnicas responsáveis para execução de atividades que, ao longo do processo, resultarão num aprendizado, ou melhor, no conhecimento. Tradicional não significa conduzir os alunos à memorização, mas significa responsabilidade e comprometimento com o aprendizado do aluno. Um exemplo: Freud estudou em uma excelente escola pública humanista, mas tradicional. O problema da não aceitação do tradicional na sociedade brasileira deve-se, unicamente à cultura histórica. 


É importante dizer que a Escola Nova, não consegue resultados satisfatórios com as novas teorias educacionais, porque não as usou com adequação. Segundo Castanho, (op. cit. pág. 96), Discutir e debater não são atividades espontâneas, fáceis. Não basta que o professor leve o aluno a exprimir-se e dizer o que sente. Levar o aluno à autonomia não significa recusar toda a cultura acumulada ao longo da história humana. 
O conceito de tradicional nos remete à Grécia Antiga e a Aristóteles. É importante destacar que, nos currículos da maioria dos cursos das Universidades, ele é sempre lembrado e estudado. Principalmente ao tratar-se da argumentação. Esta, como sabemos, representa o resultado de um trabalho cognitivo e dialético. Urge, então, admitir que o desenvolvimento cognitivo deva ser o ponto central para se amarrar a educação no século XXI. Não há outro caminho para o conhecimento se não o desenvolvimento cognitivo. Nesse caso, ele deve ser desenvolvido cedo. As escolas, que trabalham com as séries iniciais, devem estar atentas.

Nos últimos anos, as novas tecnologias surgem no cenário educacional com muita força. Nessa época, não é novidade dizer que elas tanto trazem benefícios quanto também prejudicam. Isso se tornou lugar comum. Mas é importante analisá-las no contexto educacional da sala de aula. Como essas novas tecnologias são usadas? Será que o professor as utiliza adequadamente? Será que o professor pesquisa sobre documentário, filme ou outro gênero que tenha relação direta com o assunto dado para que possa instigar uma discussão? Será que o professor utiliza as técnicas necessárias e os suportes adequadamente para que o aluno aprenda com essas novas tecnologias? Agora, duas perguntas fundamentais são lançadas. Será que o professor possui conhecimento intelectual para utilizar as novas tecnologias e obter resultado? Será que o professor possui tempo para realizar esse trabalho? Se não existirem as duas afirmações das perguntas acima, a educação brasileira estará fadada ao fracasso. 

A proposta desse texto foi exatamente sugerir um fim para as divisões das correntes educacionais: tradicional e escola nova. Direcionar o olhar para o centro que é ajudar e orientar o aluno a adquirir conhecimento torna-se o fundamental. No atual cenário educacional, não há mais lugar para discussões entre correntes educacionais já que ministrar uma aula expositiva não significa ser tradicional como também, por exemplo, dar um texto aos alunos e pedirem para desenhar o que eles entenderam, não significa, necessariamente, ser escola nova.






Referências Bibliográficas
Língua Portuguesa – Psicanálise & Linguagem – Ano III – novembro 2008. Ed. Segmento
ONRUBIA, Javier. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. IN: O construtivo na sala de aula. COLL, Cézar (Org). São Paulo: Ática, 1999

CASTANHO, Maria Eugênia L. M. Da discussão e do debate nasce a rebeldia. IN: Técnicas de ensino: porque não? VEIGA, Ilma P. Alencastro. 17 Ed. São Paulo: Papirus, 1991









(clique na imagem para ampliar)

2 comentários:

Anônimo disse...

Sandra,
Este artigo está muito bom.
Suzana

Anônimo disse...

Minha querida amiga, permita-me discordar. Respeito suas afirmações e críticas, porém acredito muito nas teorias de Vigotsky, Paulo Freire, Emília Ferreiro, Ana Teberosky, Piaget, entre outros. Como acredito também que nem tudo no “ensino tradicional” deve ser descartado. Um abraço.